domingo, 1 de fevereiro de 2009

Cidades

Sou uma criatura urbana. Gosto de observar a ocupação dos espaços, a organização dos serviços públicos, as soluções que as coletividades encontram para fugir da lógica devastadora que assombra a maioria dos grandes centros.

É verdade que a cidade onde eu vivo é um ótimo exemplo de planejamento, de convergência de interesses e de mobilização política. Grenoble é um grande centro de inovação, com um dos melhores sistemas de transporte público do mundo e uma capacidade de planejamento impressionante.

Mas o brilho de Lyon é incomparável. A terceira maior aglomeração da França (a Grande Lyon tem um milhão e trezentos mil habilitantes) é simplesmente bliss! Maior potência econômica desse velho país, a cidade elegeu um prefeito do Partido Socialista nas últimas eleições. Isso não impediu, no entanto, que a agenda de incentivo ao empreendedorismo, com título em inglês (ONLY LYON) e inspiração liberal, fosse mantida e aperfeiçoada pelo olhar crítico da nova gestão.

Tudo em Lyon enche os olhos. A metrópole, fundada em 43 a.C. pelo senador romano Lucius Plancus, mantém um bairro medieval e renascentista comparável ao de Veneza, mas não deixa de polir seus arranha-céus. O investimento em cultura faz qualquer queixo cair. Berço da invenção do cinema, Lyon abriga uma infinidade de museus temáticos, duas orquestras de nível internacional, o único teatro de alto padrão unicamente dedicado à dança do planeta, além de muitas outras coisas que eu nem tive tempo de ver.

Passei o dia na cidade, com o objetivo principal de assistir à ópera O Jogador, adaptação de Prokofiev para o romance de Dostoiévski. O ambiente era interessante, e o espetáculo era extremamente ensaiado e cheio de nuances. A Orquestra da Ópera de Lyon tem um maestro japonês e carismático (ao contrário de alguns outros), mas não me comoveu tanto quanto a feirinha de livros à beira do rio Ródano e a subsequente refeição em um restaurante de comida regional.

Cidades, boas cidades, são pura arte.


Lendo:
Umberto Eco - Como Viajar com um Salmão (versão francesa, comprada na feirinha de Lyon, e bem complementada pelo filme Os 12 trabalhos de Asterix).

Ouvindo:
Jimi Hendrix - Live at the Isle of Wight
Yann Tiersen - Tabarly (trilha sonora do documentário homônimo)

12 comentários:

Augusto disse...

Essa história de "simplesmente bliss!" ficou bem homossexual. E a ópera d'O Jogador deve ser massa, foi um dos poucos livros do Fiódorzinho que eu tive paciência de ler, aquele monte de nomes em russo dá uma preguiça.

Igor Czermainski de Oliveira disse...

Não entendo a história da sexualidade do "bliss". Só os gays podem ficar empolgados?

Augusto disse...

Eu diria que só os gays deveriam ficar empolgados de um jeito gay.

Igor Czermainski de Oliveira disse...

Pois então eu fiquei empolgado de um jeito gay.

E isso não é exatamente ruim, porque os gays costumam ser felizes, segundo a minha experiência.

Esquecendo o sentido pejorativo da palavra, frequentemente empregado pelos homofóbicos (espécie bastante atrasada), escrever algo gay deve ser bom.

Franco disse...

Bah, que bala! Assistir uma ópera de um livro bom deve ser interessante. Ela foi cantada em russo?

Igor Czermainski de Oliveira disse...

Grande Franco,

Sim, a ópera era em russo, com legendas em francês. Aliás, já escrevi sobre a Rússia em dois posts (esse e esse).

Comprei, lá mesmo, uma cópia do texto com a tradução em francês para cada página do que escreveu Prokofiev.

Abraço!

Igor

Augusto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Augusto disse...

Uuahauahuh, não precisa ficar brabinho. Eu falei que ficou parecendo gay porque já convivi com mais de uma pessoa gay, e é exatamente o tipo de coisa que alguns deles falam, por mais estereotipado que possa parecer. Mas se o meu primeiro comentário causou tal reação, então ele cumpriu o seu papel. Anarquia FTW!

Ah, e deletei o comentário logo aqui em cima porque tinha falado besteira mesmo.

Matheus "TT" Freire disse...

Pra mim bliss é um iogurte encontrado no Zaffari, o qual eu não compro... mas pelo contexto criado pelo Oggro, o comentário dele não foi simplesmente bliss ^o)

Pelo que eu vejo dos teus posts, parece que a viagem está sendo muito proveitosa mesmo fora da universidade. Muitas experiências diferentes. Por isso que eu gostaria de viajar pela Europa.

Franco disse...

Perguntei da língua porque sei que ao menos a ópera Dama de Espadas do Tchaikovsky era cantada em francês fora da rússia. Até numa andança pela República Tcheca (ou como quer que fosse o nome do lugar nessa época) alguma ópera dele foi cantada em tcheco. (Sim, eu li pencas de coisas sobre a vida e obra do Tchaikovsky. :P)

Como é meio que crucial para a diversão entender o que se canta, o Prokofiev é da geração seguinte a do Tchaikovsky e as óperas do Tchaikovsky costumam, atualmente, ser cantadas em russo, fiquei imaginando como se fazia atualmente ns França.

Eles fornecem legendas ou sorte tua, que as tinha independentemente dessa apresentação?

Abraço!

Igor Czermainski de Oliveira disse...

Físico,

As legendas são projetadas em pequenas telas (muito bem feitas) no teatro. O livrinho que eu comprei era opcional. É mais para levar para casa do que para acompanhar lá na hora.

Por coincidência, a ópera do Prokofiev tem alguns trechos em francês (assim como o livro O Jogador). A língua francesa era sinal de nobreza nos círculos dos afortunados do século XIX.
A diversão do público ficou por conta da pronúncia engraçada dos cantores, de origem eslava. Mademoiselle Blaaaaaanche!

Gosto muito de Tchaikowsky, mas mais da música. Não consigo ouvir ópera em casa. Parece que tu viraste quase um biógrafo daquele russo.....

Tá tocando piano?

Abraço!

Franco disse...

Fenômeno,

Interessante o sistema de projetar as legendas, não sabia que era assim.

Eu também não consigo ouvir ópera em casa, só aberturas ou árias. Isso implica que eu nunca ouvi ou assisti uma ópera inteira, o que não chega a ser uma lástima pra mim, dado que prefiro música clássica instrumental. Mas hei de assistir uma quando tiver a oportunidade, claro.

Sobre o piano, desde outubro parei de fazer aulas, dado que, no estágio que estou, o pouco tempo que tenho tido para estudar em casa tem me impedido de avançar. Por enquanto, tenho praticado o suficiente pra não perder o que ganhei. Assim que defender o mestrado, retomarei os estudos.

E tu, estudando algum instrumento? Por mais improvável que seja, tenho de perguntar. :)

Abraço