quinta-feira, 23 de abril de 2009

Juste Milieu

Aconteceu, na última segunda-feira, a apresentação final dos trabalhos da disciplina de Métodos de Criatividade, mencionada no meu post anterior. A cadeira, que acabou sendo a melhor surpresa que tive no IAE de Grenoble, trouxe à tona, nesse último encontro, uma reflexão que considero extremamente importante: o equilíbrio entre o fornecimento de insights criativos e a elaboração de planos de ação concretos e detalhados. A cada sessão de 15 minutos, grupos de estudantes exibiam combinações diferentes desses dois componentes, com o objetivo de impressionar a empreendedora que havia confiado à classe a tarefa de elaborar um plano de comunicação para sua agência de trabalho temporário.

Minha equipe posicionou-se no extremo criativo do conjunto de trabalhos, e conseguiu, ao contrário daquelas que se colocaram no outro lado, arrancar bons elogios do júri. Foi, no entanto, a última exposição do dia que convenceu a todos. Demonstrando uma coerência inédita, combinada com um nível de ousadia próximo ao do meu grupo, os sete estudantes que fecharam a rodada fizeram o professor evocar uma expressão que me pegou desprevenido: o tal juste milieu significa (de uma maneira que só a língua francesa pode dizer) a obtenção de soluções equilibradas e sensatas. Em história da arte, o vocábulo denomina um movimento da pintura do final do século XIX que procurava um meio-termo entre os estilos impressionista e acadêmico. Encontrar o juste milieu é a maneira francesa de resolver as coisas que, segundo o mestre, está sendo perdida ao longo das gerações.

De volta para casa, cheguei à seguinte conclusão: a própria existência dessa cadeira é uma solução juste milieu. A interação da universidade pública com empreendedores é uma experiência em que cada uma das partes tem de se adaptar um pouco para aproveitar o que o outro lado tem de positivo. E como essa experiência gera um aprendizado interessante!

Ontem, saindo da biblioteca, encontrei uma edição da Revista de Administração da USP na prateleira do pegue e leve. Entre os longos títulos dos artigos publicados, na capa do periódico, está "Avaliação de competências requeridas aos trabalhadores da informação: análise da experiência com a seleção de alunos para programa de iniciação científica." Não li o artigo, afinal o título não me atrai. Mas tive a impressão de que alguns professores de administração do meu querido país ainda precisam encontrar seus juste milieus, assim como muitos de seus colegas espalhados pelo planeta.

Que fique claro: não sou um defensor da privatização das escolas de administração das universidades públicas brasileiras. Creio apenas no bem que o contato com a realidade das empresas, ONGs e entidades governamentais propicia a mestres, alunos e organizações. Tive outra excelente experiência com o Professor Paulo Motta, da EA/UFRGS, em um trabalho realizado em um Tribunal.

Deixo para você, caro leitor, dois desafios: refletir sobre os efeitos da academização [que bela indústria, a academia!] do ensino de gestão no Brasil e encontrar uma solução juste milieu para o problema da proibição da cobrança nos cursos de pós-graduação da UFRGS.

Lendo: Lester Brown - Plan B 3.0

Ouvindo: Frank Zappa - Hot Rats
John Cage - Sonatas and Interludes for Prepared Piano
Marcelo Camelo - Sou