quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Fortes Indícios

(Herbie Hancock - Cantaloupe Island)

Estive em Londres por quatro dias, acompanhado de três amigos brasileiros que conheci em Grenoble. Fotos no meu álbum.

Na saída, passando pela área de embarque do pequeno aeroporto de Grenoble, encontrei uma placa em russo, que alertava: "beber álcool é estritamente proibido neste recinto".



Por que alguém colocaria uma placa em russo em um aeroporto que não oferece vôos para a Rússia? A resposta só pode estar nas fortes raízes russas da população francesa, já explicadas no post anterior.

Essa bizarrice lembrou-me uma outra cena. Maio de 2007, Frankfurt, Alemanha. Cereja, fiel companheira de viagem, reclama: "Igor, tira esses óculos". Eu, teimoso, observo alguns homens letões de origem russa beberem tranquilamente na fila do embarque.

É. Viajei e perdi o festival do cinema soviético em Grenoble.



(Beatles - Back in the USSR)

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Onde é a Rússia?

Assumindo minha ignorância, resolvi comentar [graças ao blog do Rafa] o vídeo hilário da candidata à vice-presidência dos Estados Unidos, Sarah Palin. Trata-se de um amontoado de mal-entendidos entre a dama republicana em questão, que também é governadora do Alasca, e a apresentadora da CBS, que mantém um tom meio-irônico-meio-eleição é coisa séria. A candidata, numa lição de etnocentrismo estúpido, afirma que sua principal credencial para atuar na política externa americana é a proximidade do Alasca com a Rússia. O problema é que ninguém entende o que ela quer dizer com proximidade.
Assim, pretendo usar toda a minha capacidade analítica para descobrir a posição real da Rússia no globo. Não sou ousado o bastante para tentar achar Kaliningrado. A Rússia típica já basta. Tenho três hipóteses.

1) A Rússia fica, mesmo, ao lado do Alasca
A hipótese número um é reforçada pela presença de três seres tipicamente russos em território estadunidense, durante diferentes momentos. Tais indivíduos aproveitaram a proximidade entre as duas nações para emigrar para a terra maravilhosa.

George Gershwin e seu irmão Ira são minhas lendas preferidas da música norte-americana. Filho de judeus russos, George praticamente inventou o jazz, com muita influência da música clássica russa, nos anos 20 e 30 do século XX.

Igor Ansoff
, autor de Corporate Strategy (1965), levou aos EUA a maneira eslava de planejar e possibilitou a emergência dos Estados Unidos como potência do management.

Motta
, meu professor na EA/UFRGS. Como consultor do governo norte-americano, levou o planejamento governamental para a NASA e para USAIDS por volta de 1970. Coisa de russo, diziam os ianques.

2) A Rússia é aqui
Minha lista de benefícios recebidos do governo francês é longa. Estudo na universidade pública, sou bolsista, moro em uma residência estudantil subsidiada, almoço em um restaurante universitário subsidiado. Mas isso não é tudo. Tenho assistência médica gratuita, utilizo o moderno sistema de transporte público de Grenoble e, de quebra, assisto a concertos financiados pelo governo francês. Alguns deles incluem degustação de iguarias locais ao final do espetáculo.

Com uma presença estatal tão forte, a França é candidata a ser Rússia.

Uma das disciplinas que frequento na Universidade trata do sistema tributário francês. Lá, eu descobri que a França inventou um tipo de imposto sobre o valor adicionado que foi adotado por dezenas de países. É o tal do imposto único que os políticos brasileiros ainda vão levar algum tempo para aprovar.

3) A Rússia está em todo lugar
Os russos fizeram um tour pelo mundo e deixaram seus traços por aí. Os que ficaram na França são os mais ortodoxos.

A secretária do meu curso só pode ser russa. Provocou uma confusão burocrática enorme por não entender, desde o início da minha estadia no IAE, que eu sou um estudante estrangeiro em regime especial. Tive que usar toda a minha técnica de negociação internacional para não pagar as taxas que são cobradas dos estudantes que pretendem adquirir um diploma de financista-mecânico carimbado, do jeitinho que russo gosta.

Quando me apresento para alguns franceses, digo que sou russo. Eles acreditam. Igor Czermainski...........

(Richard Wright - Night of a Thousand Furry Toys)